A charada da demanda industrial sanjoanense - 03/01/2017
A charada da demanda industrial sanjoanense*
Encontrar uma vocação econômica e
nela se apostar para o futuro de longe é a grande charada para qualquer
política de desenvolvimento produtivo. Quem acompanha o noticiário econômico ou
gerencia uma empresa sabe que não há fórmula pronta para gestão econômica,
principalmente quando se quer grandes saltos: mas também sabe-se que mesmo
tratando-se de um mundo instável, planejamento é imprescindível, como motor e
como âncora. Pois bem, há muito se discute (inclusive neste espaço) sobre qual
seria a vocação econômica de São João da Boa Vista, e os mais variados
diagnósticos para planejarmos um futuro mais competitivo substituem-se ano após
ano. Se buscarmos no mais óbvio, os dados, tudo aparece com maior clareza.
Segundo os dados do IBGE de 2014,
tivemos uma evolução constante do PIB entre 2002 a 2014, saltando de R$
752.637.000,00 para 2.610.606.000,00, e atualmente temos 3,04% do PIB vindo da
agropecuária, 22,54% da indústria, 61,28% do setor de serviços e 13,14% do
setor público. Resta saber se neste “setor de serviços” predominam atividades
que realmente agregam valor à produção industrial ou agrícola? Na medida em que
inclui ensino superior, podemos dizer que há sintonia entre os cursos dados e
principais setores? Para que haja esta sintonia e, deste modo, capacidade de
conectar-se ao distrito industrial e ao campo, é preciso ter clareza sobre que
setores realmente são fortes e vem crescendo e ganhando competitividade, e os
dados da Fundação Seade sobre o Valor Adicionado Fiscal da Indústria em
São João da Boa Vistaapresentados na tabela que foi posta como imagem
deste texto.
Disparado, temos a Indústria
Alimentícia em primeiro lugar, representando um valor próximo da metade do
nosso PIB industrial, quase triplicou durante o período. Mesmo em oitavo lugar,
outro setor que triplicou foi o de produção de Móveis, incluindo desde
produtores em série até marcenarias de móveis planejados. Com menor mas também
expressiva evolução tivemos os setores de Produtos de Metal, Máquinas e
Equipamentos, Montadoras e Autopeças, e o surgimento da indústria da
Reciclagem, constando já no levantamento de 2012. Mesmo estável ou apresentando
queda, a extração de Minerais Não Metálicos, produção de Materiais Elétricos,
Têxtil e Plástico se mostram fundamentais na economia sanjoanense.
Em todo caso, a produção de
alimentos ter tamanha predominância e mal ser mencionada nos diagnósticos
passados pode ter levado à dificuldade em estabelecermos um projeto integrado
de desenvolvimento. Como já foi publicado aqui, nossa produção agrícola é a de
maior valor agregado do Estado de São Paulo, mas representa menos de 4% Do PIB;
constatar o força de nossa indústria alimentícia pode ser o eixo de recuperação
da importância do campo como produtor de matéria-prima para ser transformada
localmente. Pode também aperfeiçoar o foco de nossa atividade acadêmica também
para este eixo agro-alimentício.
Os dado aqui apresentados poderiam
originar páginas e mais páginas de debate, mas certamente podem indicar para
caminhos ainda inexplorados nos debates e nas propostas de integração
Universidade-Empresa. Um projeto de desenvolvimento precisa estar em sintonia
com os principais setores da economia e com a representatividade real de cada
setor produtivo, e a atividade em Ciência & Tecnologia precisa acompanhar a
produção industrial, caso contrário fica totalmente deslocada das necessidades
regionais. Esta adequação precisa ser uma nova pauta!
* Publicado originalmente no site do jornal O Município em 03/01/2017