Mantiqueira Valley e o “Anjo” da competição - 15/12/2016
Mantiqueira Valley e o “Anjo” da competição*
O sucesso da Tennessee Valley
Autority nos anos 1940 mostrou que políticas públicas de desenvolvimento
regional envolvendo municípios pequenos necessariamente devem primar pela
articulação da rede de pequenas iniciativas para que estas possam cooperar
competindo. Mesmo concorrendo, as pequenas empresas inspiram-se mutuamente e
quando passam a compartilhar infraestrutura todas se tornam mais dinâmicas.
Este projeto da costa leste estadunidense inspirou todas as demais políticas de
desenvolvimento regional ocidentais, desde a formação da estrutura econômica de
Israel até o Silicon Valley, maior concentração de empresas de tecnologia do
planeta. Neste último caso, radicalizou-se o livre compartilhamento de ideia e o
sentimento de coletividade, sem abrir mão do espírito de mercado. Para pensar
nosso desenvolvimento regional também priorizando a conexão entre microempresas
conversei um dos idealizadores do “Mantiqueira Valley”, movimento de pretensões
regionais formado por agentes de inovação de pequeno porte que busca um
ambiente sustentável para pequenas empresas de base tecnológica (startups),
Bruno Martins.
Bruno, sócio de uma marketplace para
produtores de café (The Best Coffe in Brazil) que participou de um dos maiores
programas de formação de startups do país (Lemonade, Belo Horizonte), defende
que um ecossistema de inovação depende das pequenas inciativas que se arriscam
em tecnologia disruptivas (que rompem com as soluções que existiam
anteriormente), pois o pequeno porte significa que pequenas estruturas permitem
que mesmo grandes correções sejam menos dispendiosas. Todavia, uma rede de
pequenas inciativas inovadoras depende de 5 fatores: 1) empreendedores
tecnológicos, 2) agentes de aceleração (transformam ideia em negócio), 3)
espaços de co-working, 4) infraestrutura e formação acessíveis (incubadoras,
por exemplo) e 5) agentes de capital (investidores).
No Brasil, o grande gargalo na
formação de ambientes de startups é a dificuldade em se encontrar o que convencionou-se
chamar de “investidor anjo”, que arrisca pouco dinheiro em projetos ainda
iniciantes; em média, R$ 300 mil em projetos de hardware e R$ 100 mil em
software. Seria uma questão de cultura de nosso empresariado, mais simpáticos
em investir em negócios comprovadamente eficientes mesmo que tendo retorno
menor. Junto aos demais quatro componentes do ecossistema, estes seriam os
principais focos estratégicos de um ambiente de inovação.
O empreendedores não cooperam e
compartilham apenas por desejo de um bem comum. Estamos falando de mercado,
competição, microempresários que querem vencer e crescer. Eles não veem
problemas em colaborar com os demais, desde que sejam criadas condições que
levem a isso, e que neste processo também vejam possibilidade de crescimento e
soluções para o próprio negócio. Precisam de um sistema de gerenciamento
eficiente, velocidade, dinamismo. O Mantiqueira Valley surgiu espontaneamente,
e pode ser uma das mais frutíferas inspirações para nosso desenvolvimento
tecnológico local e regional exatamente por não ter outro interesse que não
seja melhores condições para microempresas.